domingo, 31 de março de 2019

Eu virei a minha mãe

Nunca pensei na vida que eu diria isso: eu me transformei na minha mãe! Ando falando as mesmas frases que ela. O pior: não é com Kylo, que é o apelido da cria. Ando a berrar com meu pai. Outro dia, ameacei saltar do carro. Tornei-me a pessoa que grita insanamente com outro ser humano embora odeio estes destemperos. Entendi melhor a dinâmica familiar. Meu pai é do tipo: o dinheiro é meu e faço o que quiser com ele. Não sei o que se passa na cabeça dele. Aprendi muita coisa boa com a presença constante. Uma delas foi como ser uma boa mãe porque era brincalhão. Sabe quando tem cumplicidade? A gente tinha. Atualmente, meu progenitor só grita e eu respondo no berro também. 

Não sei o quanto o fator câncer de próstata afeta o comportamento dele. Talvez, muito. Talvez, nem tanto. O problema é que diz que está com o pé na cova. Não, os médicos não dizem isso. Segundo a criatura, os médicos são otimistas porque devem dar esperança ao paciente. Tenho ido às consultas médicas e ninguém falou que ele morrerá em alguns meses. Os exames parecem promissores. Deve ser assustador receber um diagnóstico assim, porém é comum o homem ter este tipo de câncer. Vide o Método Kominski. Decidi por colocar as crônicas familiares aqui porque eu preciso despejar estas presepadas familiares para me sentir um pouco mais leve! 

A gente acha que diante da possibilidade da finitude, uma luz virá dos céus, o mundo se tornará mais colorido, a pessoa pensará em mudar de vida e se tornará um ser humano decente. Ledo engano! Não se deixem levar pelos filmes que assistem por aí! Isso é pura balela. Uma doença pode mudar uma pessoa se ela estiver disposta a  tal atitude, se estiver ao alcance da alma dela. Meu pai não é o primeiro a agir assim e nem será o último. Odeio o Adam Sandler, mas ele fez um filme em que está com alguma doença assim e ele diz que isso não o mudou. Ele é um nojo no filme (talvez, fora dele também). Como dizem, apenas ele mesmo deve gostar das coisas que faz.

Sabe, quero voltar a ser a pessoa tranquila que sempre fui. Sei lá se sou tranquila, mas apaziguadora, que não vê solução em gritar. Afinal, não há nada mais vergonhoso do que minha mãe dando piti em casa, na caixa de vidros, em que todos os vizinhos daqui até o fim do universo podem ouvir. Dia desses, ajudava Kylo (Disney, perdoe-me por me apropriar, mas este nome cai como uma luva para o jovem universitário adolescente tardio) e começamos a ouvir uma mulher exaltada na vizinha. A conversa alheia estava interessante, mas ela diminuiu o tom em dado momento e não descobrimos do que se tratava a revolta. No entanto, a cria começou a rir. Achei estranho e perguntei do que se tratava. Respondeu que ficava imaginando o que os vizinhos deveriam pensar das brigas com meu pai.

Estou tão azucrinada com o este senhor de 82 anos, que eu perco as estribeiras. Meu corpo ganhou músculos de tensão. Meus ombros vivem duros. Eu trabalho com o velho louco e ele diz: Arrume você as situações, eu faço do meu jeito. Ele diz que fiz errado. Cheguei no ponto de gritar dizendo: já que está errado faz você! Ao que retruca: Você precisa aprender. Eu: Então, cala a boca! Sentiram o drama? Pois é! O adolescente tardio diz que meu pai me joga no meio de uma batalha contra um pelotão armado com fuzis e todos os tipos de arma e me dá uma faquinha (de cozinha) para dar uma de Macgyver. Joga-me aos leões para lutar com as mãos vazia. 

Outro dia, fui dar uma notícia bem desagradável para um cliente. Tive que ouvir quieta a esposa do senhor gritar comigo porque meu pai me joga lá no meio da arena para virar o Loki jogado no chão pelo Hulk. Sim, é bem aquela cena. Estou aprendendo como ele diz: Quando ele fala para eu resolver e diz que está errado, respondo: Então, fala você! Estou ficando tão doida que o lado negro da força está me dominando. Sei bem que sou falha e cheia de erros, mas eu queria que a força estivesse comigo porque quero ter a paciência de um Yoda e não a fúria de um Darth Vader. Agora, faz todo sentido do mundo eu chamar a cria de Kylo Ren. Meu pai parece o Seu Darte Veider. Em homenagem à família, carrego em minha pulseira o capacete de Darth Vader.

May the force be with me!

A responsabilidade da escrita

Fiz uma live sobre relacionamentos abusivos. Ainda me sinto incomodada com o fato de que os personagens bad boys e femme fatales são romanti...